quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A inexistente Felicidade

Certa vez um professor entrou em sua classe e escreveu no quadro:
- FELICIDADE.
Olhou para a sua turma de jovens entre 15 e 17 anos de idade e pediu para que cada um deles definissem esta palavra. Alguns se arriscaram a responder, outros preferiram optar pelo silêncio, e as respostas foram as mais diversas, muitas vezes esdrúxulas, porém, o professor não se deu por satisfeito. De repente uma garota na última fileira levantou o dedo indicando que queria dizer algo. Seus olhos explicitavam timidez e percebendo o tal desconforto da menina, a turma aos berros iniciou muitas piadinhas infames, mas o professor mantinha-se atento à garota e sequer pediu que a turma se calasse. Uma súbita coragem revestiu-a e então pôs-se de pé e iniciou sua explicação:
- Felicidade é uma palavra intencionalmente criada pelo o ser humano para justificar sua insaciabilidade. Vivemos em um mundo onde pessoas morrem de fome, frio, tiros e ainda assim nos preocupamos apenas com o que os outros podem pensar a respeito das roupas que vestimos e se o carro que compramos é mais belo que o do vizinho. Dá-se o nome de Felicidade todo o conjunto que compõe a conquista e a aceitação alheia. A nobreza não consiste em possuir bens e sim em possuir um coração aberto para acolher os necessitados. Nem sempre estes necessitados são os mendigos que vemos deitados nas ruas, ou aquela família pobre. Muitas vezes os necessitados são pessoas ricas que só precisam ouvir algo que possa mudar completamente o rumo de suas vidas, ou mesmo serem ouvidas por pessoas incapazes de bajularem-nas pelo o que possuem e pelo o que representam para a sociedade. Nem sempre devemos possuir as melhores palavras, mas sempre devemos estar aptos a ouvir, afinal, não é atoa que temos dois ouvidos e apenas uma boca.
A essa altura a turma estava em um profundo silêncio. A menina estendeu um dicionário e continuou seu discurso:
- Aqui está escrito que a felicidade é um estado constante de alegria e satisfação pessoal. Glória e uma plenitude incessante. Então eu lhes pergunto: Quem pode se declarar realmente feliz? Quem vive nesta constante alegria? Quem realmente encontrou este tesouro existencial? Tenho certeza que ninguém possui esta dádiva, mas sei que tudo se tornou motivo para a sua busca. As pessoas preferem ferir umas as outras para garantirem sua satisfação acreditando que serão conduzidas a essa tal felicidade. Preferem desperdiçar a vida dedicando-se à aquisição de bens sem se perguntarem ao menos uma vez na vida se àquilo que possuem é resultante de um trabalho escravo infantil ou mesmo da exploração de mão-de-obra barata. Durante muito tempo fui vítima de gracejos e humilhações nesta escola por ser diferente. Mas ao contrario do que pensam, eu não me sinto ofendida, pelo contrário, me sinto bem por saber que mesmo sendo ridicularizada, posso despertar alegria em vocês e permiti-los sentir superiores. O que seriam de todos vocês se não existisse essa garota bizarra? Da mesma forma eu pergunto o que seria da água se não houvesse quem a consumisse? E o que seriam das plantas se não existisse a água? O que seriam dos animais e homens se não existissem as plantas? Na natureza um elemento por menor que pareça ser, torna-se a peça fundamental da sustentação que os seres vivos necessitam para continuarem percorrendo o ciclo da existência, mas no reino dos homens a sustentação se traveste na forma de orgulho desenfreado que sempre resulta em rejeição e um elemento muitas vezes é apenas um objeto de uso e descarte ainda que este único elemento seja um de seus semelhantes que pensa, respira, e sente necessidades fisiológicas como qualquer outro. Posso até ser impopular, mas não estou mentalmente adoecida pela a idiotice de que neste mundo cruel e tenebroso exista algo tão sublime que possa ser conquistado através de buscas egoísticas.