quinta-feira, 7 de julho de 2011

A arte do amor

Não tenho a ousadia e a presunção de dizer que neste artigo serão abordadas todas as faces do amor, nem mesmo que eu o conheço como a palma da minha mão, pois o amor é uma descoberta individual e gradativa, e se aperfeiçoa com o entendimento. Assim como os primeiros passos de uma criança, caminhamos errantes entre as quedas e o equilíbrio e descobrimos sua real definição para que possamos praticá-lo em toda a sua plenitude.
(Clayton Paulo 07/07/11)
Dizem que a vida imita a arte. Na arte, mais especificamente nos cinemas, toda história de amor têm um início natural, um meio difícil e um final feliz. Mas será que na vida também é assim? Será que o amor que demonstramos ou que recebemos se compara com o amor que nos é mostrado nos filmes? Você na certa dirá que não, ou poderá dizer que existem casos isolados da manifestação do amor na vida real. Desde que me entendo por pessoa, tenho ouvido essa a respeito desta palavra, até que certo dia, no auge da minha vida eu decidi buscar no meu próprio coração a real definição desta palavra. Confesso que viajei milhas de distância no oceano da minha imaginação e da minha simples capacidade intelectual, mas tudo o que eu encontrei foi apenas aquilo que condicionaram minha mente a acreditar.
A sociedade perece por falta de amor. Vemos várias faces desta pura e doce palavra destilando-se nos olhares mais vítreos e mais secos de algumas pessoas, e então percebi que ainda faltava algo, e que o amor ainda não havia se personificado nos seus corações. O que vemos é o misto de sua característica com a mais pura superficialidade sentimental, ou seja, um grande jogo de interesses. Permita-me citar uma frase escrita por Friedrich Nietzsche:
“ O amor está sempre além do bem e do mal”.

A minha busca continuava, mesmo sabendo que tudo o que minha mente concebeu à respeito disto foi o que me disseram ao longo da minha existência. O coração se cansava, mas minha razão me inquietava até que olhei para o mais profundo da minha alma e percebi que o melhor a se fazer era dar tempo ao tempo. Somente o tempo apresenta todas as evidências necessárias que a nossa vã capacidade intelectual limita-se a apresentar-nos. Confesso que reverenciei as palavras de Nieztche, pois mesmo sendo cético, ele mostrou claramente o real significado do amor. As atitudes de quem realmente ama excedem os padrões que existem à respeito de relação e perdão. Por exemplo: Você perdoaria o assassino do seu filho? Perdoaria seu (sua) melhor amigo (a) que o (a) traiu? Perdoaria um pai que abusou de sua inocência? Se para todas estas perguntas, sua resposta for positiva, saiba que você é uma pessoa que realmente carrega dentro de si a personificação do verdadeiro amor. Eu sei o quanto é difícil aceitar o que estou escrevendo, mas infelizmente é esta a mais pura realidade. Eu gostaria de confortar meu coração e o seu dizendo que “olho por olho e dente por dente”, também é uma forma de demonstrar amor. Gostaria tanto de escrever neste artigo que não devemos perdoar seja lá quem for o que quer que tenham feito contra nós que ainda assim estaríamos amando estas pessoas, mas isto eu não posso fazer, eu estaria mentindo para você e principalmente para mim mesmo. É triste, mas infelizmente a vida não imita a arte.
Em meio à humilhação pública, xingamentos, feridas abertas e infeccionadas, corpo seminu, abusos de vários tipos, tendo sua face cuspida e a ameaça da iminente morte, Jesus gritou em alto e bom som:
“Pai perdoa-lhes eles não sabem o que fazem”
Naquele momento a humanidade poderia ter sido completamente destruída. Mas o Deus de amor fechou os olhos para o sofrimento do próprio Filho afim de poupar a raça humana, inclusive os Seus assassinos. As escrituras não relatam, mas o avanço do Cristianismo decorreu com as inúmeras conversões de Judeus e Romanos, soldados e pessoas que também estiveram no triste momento do sacrifício de Jesus Cristo no Gólgota. Ainda assim, mesmo assassinando o Seu Filho, Deus não hesitou em perdoá-los. Então eu lhes pergunto: existe exemplo de amor maior do que este?

Se perdoarmos uma traição, seremos tachados de otários. Se perdoarmos uma ou mais ofensas, a sociedade dirá que não temos vergonha. Se nos dedicarmos a alguém mesmo que isto não nos traga retorno algum, seremos considerados infantis e tolos. Mas se decidimos responder o mal à sua devida altura, seremos julgados como covardes homicidas e hostis. Isto prova que nunca seremos o suficiente para as pessoas. Se vivermos da maneira na qual eles querem, seremos eternamente escravos de seus conceitos e nos tornaremos dependentes de suas opiniões.
Após tantas buscas, pude perceber que o amor não é um mero sentimento e sim uma escolha. Não sentimos sua proximidade, mas decidimos estar próximo dele. Não somos inspirados em tê-lo, mas ele nos inspira. Não surge do acaso, mas optamos por gerá-lo dentro do coração. Não questionamos seus efeitos, mas contemplamos seus feitos. Assim é o amor vivo e latente. Que não se mede, que não se condiciona e que não se pactua com padrões pré-estabelecidos por pessoas que o desconhecem.
O que leva uma mãe matar 3 filhos? O que leva um pai abusar sexualmente da própria filha? Qual o motivo de um jovem entrar em sua escola e matar os seus colegas? Por que um homem se apodera de uma arma e obriga uma mulher a aceitar uma relação sexual? Qual o problema de uma mulher que tem ao seu lado um homem que se dispõe a fazer qualquer coisa por ela e ainda assim ela o trai? O que faz um homem abandonar um casamento de décadas por uma mera aventura?O que acontece na mente de uma mulher que abandona um recém nascido no lixo? Estas e outras perguntas se resumem a apenas uma resposta... Estas pessoas desconhecem o amor. Parece muito simples a maneira na qual eu respondi estas perguntas. Mas o fato é que o amor é o único veículo que nos conduz à uma vida saudável. Ninguém consegue viver com ódio, rancor, mágoas e todo o tipo de sentimentos negativos. Viver desta forma é sepultar a própria alma mesmo gozando de todo o vigor da existência.

Pessoalmente, eu não me arrependo das frustrações que tive na vida por amar. Mesmo não sendo correspondido à altura, tenho a plena consciência de que eu amei e isto já basta. Tenho a plena felicidade de saber que por breves e longos momentos manifestei a característica mais marcante de Deus ao demonstrar o amor pelas pessoas.
“E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele.” (1JO 4:16)
Tenho a absoluta certeza de que não existe nenhum tipo de movimento religioso ou filosófico que proíba ou ridicularize o amor. Até mesmo no mais profundo e tenebroso satanismo, fala-se em amor. Baseados no que o Ocultista Aleister Crowley escreveu como uma “lei de um homem livre”(Lei de Thelema).
“Faze o que tu queres, há de ser tudo da lei. Amor sob vontade, esta é a lei.” (Crowley)
É claro que neste texto ele pretendia relativizar o amor. Jesus nos ensinou a amar o próximo em quaisquer circunstâncias, pois mesmo sendo maus, Ele nos ama, mas Crowley surgiu com o ideal de que o caminho para a felicidade é amarmos apenas aqueles que pensamos que merecem.
O que motiva as conquistas e a própria sobrevivência do ser humano é o amor. É exatamente isto que nos difere dos demais seres: A possibilidade de amar. Nem os animais, nem as plantas, nem mesmo os anjos possuem esta característica. Quando no inicio de tudo Deus ordenou que “façamos o homem à nossa imagem e semelhança” é claro que ele não se referia ao aspecto físico, pois Deus é Espírito e de um esplendor Infinito e nós somos uma estrutura física e altamente perecível. Deus nos criou à Sua imagem e semelhança, justamente para cruzarmos as fronteiras das decepções, da raiva, das paixões e das atitudes explosivas e ainda assim permitirmos que o amor esteja muito alem de tudo isso. Eu posso estar falando muito de Deus neste artigo, mas eu digo a vocês, é impossível falarmos de amor e não O mencionarmos. Quem assim o faz, não está falando do verdadeiro amor, mas fala de suas superficialidades sentimentais. Novamente afirmo com toda a certeza: O amor não é um sentimento e sim uma escolha. Os sentimentos são frutos das paixões que surgem e passam com um piscar de olhos. Na primeira decepção, lá se vai toda a ternura, mas se as chamas do amor estiverem acesas em nós, as decepções servirão como grandes experiências.
Muitos artistas, escritores e religiosos já escreveram algo à respeito do amor. Já ouvi alguns dizerem que é um mal necessário, outros dizerem que é a coisa mais bela da vida e existem aqueles grupos que o classificam em dois tipos: Ágape e Eros. O amor Ágape é um amor fraterno, que se assemelha de um pai para um filho, de uma mãe para um filho, de irmãos e até mesmo de Deus para com os humanos. Já o amor Eros é basicamente um amor safado que o casal declara antes, durante e depois de uma boa transa. Os tempos da conquista, o início de uma relação e a reconstrução do mesmo, geralmente vêm acompanhados deste Eros. Mas sendo Ágape ou Eros, eu ainda acredito que o amor sobrepuja todas as definições.
A maioria das músicas, dos livros e dos programas de TV (como a novela, por exemplo), têm se empenhado em despertar nas pessoas o medo de amar e muitos têm se perdido por tentarem viver desta maneira. Eles cantam, escrevem e encenam decepções amorosas para nos despertar a impiedade até desistirmos de toda a expressão amorosa, até que finalmente nos esfriamos e depois nos autodestruímos. Nenhuma sociedade sobrevive sem o amor. Ele é o equilíbrio daqueles que o rejeitam. Um lugar como o mundo que vivemos onde se fala em conquistas espaciais, possessões, fama, luxo e o grande avanço da medicina, não é capaz de resolver sequer as questões comportamentais mais óbvias de algumas pessoas. Muitas vezes olhamos para o céu buscando uma resposta que na maioria das vezes está dentro de nós. O amor é a única razão e a única lógica. Mas toda a lógica e razões do mundo são incapazes de construir o amor. Eu os desafio a procurarem em quantos livros puderem a real definição da palavra amor e verão que todos os livros apenas conjecturam e detalham o que o texto abaixo explica com tanta pureza e tanta honestidade. Gostaria que meditassem e relessem quantas vezes for necessário para que suas mentes analíticas assumam com leveza e objetividade o real entendimento e não permitam que vocês se percam na dúvida:
AINDA que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor. (1 coríntios 13)
Após este texto, a única coisa que posso dizer é que a vã filosofia tropeçou mais uma vez nesta questão tão complexa e ao mesmo tempo tão simples que necessitou recorrer às sagradas escrituras para expor a real definição da escolha mais sábia chamada amor. Tudo o que Nieztzche, Sócrates, Aristóteles, Descartes, Shakespeare, Einstein e tantos outros gênios fizeram foi reforçar a crença de que existe um amor e este amor é vivo, pessoal, claro, específico que paira no mundo como a energia constante que gera a essência da vida e que insiste em se relacionar conosco e sonha que o compartilhemos com as demais pessoas. Esse amor é Deus. E peço publicamente que a cada dia, Ele me ensine e me ajude a amar a todos e que eu possa amar a mim mesmo, pois me inundando deste amor, ele poderá se exalar como um doce perfume onde existe o odor do ódio e que leve à Sua luz àqueles que agonizam nas sufocantes trevas do vazio existencial. Espero ter despertado algo construtivo em vocês.
Um grande abraço!