sábado, 16 de junho de 2012

COISAS DA VIDA

O frio só deveria existir para manter o equilíbrio do planeta e unir os seres em seus respectivos abrigos, não para congelar os que não podem se agasalhar.
O calor só deveria existir para aquecer e colaborar com o crescimento das plantas. Sua luz só deveria servir para abrir a visão dos que não conseguem enxergar nas trevas, não apodrecer a carne morta, tampouco queimar a pele e secar as nascentes.
O amor deveria ser compreendido e reverenciado, não aprisionado e utilizado como uma arma para defender os propósitos egoísticos.
O perdão deveria ser uma lição, não um martírio.
As mãos deveriam acariciar, não apedrejar.
A canção deveria ser um alívio, não um instrumento de tortura.
O beijo só deveria servir para demonstrar afeto, não a embriaguez da alma.
Os olhos deveriam refletir a simplicidade, não a altivez.
Deus deveria ser apresentado como Pai, não como um ser tirano, megalomaníaco, sedento de vingança e um exímio apreciador do inferno.

Todas estas coisas sempre caminharam em perfeita ordem. Mas o homem, voluntariamente órfão da figura paterna de Deus, preferiu transformar o frio em descaso, o calor em destruição, o amor em utopia, o perdão em ausência de caráter, as carícias em dores, as canções em barulhos insuportáveis, os beijos em grandes desleixos morais, os olhos em espadas afiadas e o universo em um imenso campo de batalhas, cuja guerra não premiará vencedor algum.