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quinta-feira, 18 de agosto de 2011
A ESSÊNCIA DA VIDA
Um empresário muito rico passava todos os dias próximos a um vilarejo muito pobre. Durante tantos anos ele se lamentava pela a situação daquelas pessoas, mas nada fazia para ajudá-las. Era um homem muito ocupado. Cuidava da sua empresa como se fosse sua própria vida, mas tudo aquilo, aos poucos ,foi perdendo todo o seu sentido até que certa vez caiu em uma profunda depressão. Como todo depressivo questionou sua existência e não encontrou um verdadeiro motivo para tal. Ele pensava:
- Eu tenho tudo que o dinheiro pode comprar. Ouro, terras, amigos, mulheres, opinião pública, justiça, mas sequer posso caminhar sozinho na rua sem o auxílio dos meus carros blindados. Vivo aprisionado nas cadeias das minhas próprias riquezas. Preciso encontrar alguém que sinta o mesmo que eu, não posso estar sozinho nesta situação.
Sem entender o porquê daquela decisão, ele se disfarçou, vestiu-se como uma pessoa pobre e foi visitar aquele vilarejo. Chegando naquele lugar o que encontrou foi algo totalmente contrário do que imaginava. Ao invés de encontrar pessoas revoltadas com a vida, deparou-se com pessoas alegres e chocou-se ao perceber que elas se ajudavam mutuamente. Não encontrou nos olhares das crianças a tristeza que enxergava nos semáforos implorando por trocados, pelo contrário, mesmo com os brinquedos danificados e em alguns casos improvisados, elas se divertiam, transmitiam toda a pureza e singeleza em seus respectivos olhares. Até que decidiu conversar com alguém. Avistou ao longe um velho que estava sozinho sentado na calçada admirando aquelas crianças.
- Esse sim deve estar amargurado com a vida -pensou- agora eu encontrarei alguém capaz de compartilhar da mesma visão que a minha de que esse mundo é um verdadeiro lixo!
Ele se apresentou a aquele velho utilizando um nome qualquer e foi logo ao assunto:
- Como esse mundo é podre! Existem pessoas que gozam de uma vida saudável e próspera, enquanto nós, os pobres, temos que nos contentar com as suas migalhas.
O velho o interrompeu e disse em um tom sereno e alegre:
- Meu filho, existem dois mundos, duas fronteiras, porém várias formas de se enxergar tais mundos. Cada um é feliz de acordo com suas possibilidades. Quando atravessamos a fronteira para o mundo deles, sentimo-nos inferiores por não nos vestirmos como eles e por não possuirmos os bens que eles possuem. E quando eles atravessam as fronteiras para o nosso mundo, eles se sentem ridículos, por acreditarem que tudo têm seu preço e que a felicidade consiste em um objeto de compra e venda.
- O senhor tem razão! Mas seria melhor se pudéssemos unir estes mundos e fazer com que todas as pessoas se sentissem muito bem.
- O grande problema universal são as pessoas acreditarem que são capazes de viverem a vida das outras. Não somos feitos em série como nas indústrias. Deus tem um propósito para cada um de nós. Se nascemos em mundos diferentes, mesmo cientes de que estas fronteiras foram criadas pelo o coração do homem, é porque devemos trabalhar para a transformação benigna do nosso universo sem nos apoiarmos no universo alheio. Quando estes dois mundos se chocam, sempre ocorrem lutas sangrentas, pois ambos acreditam estar com a razão. Eles não têm o direito de tirar os nossos direitos e nós não temos o direito de querermos viver da mesma forma que eles vivem.
- Mas todo o pobre sonha em ser rico!
- Por que lhes foram apresentados o mundo da riqueza como um mundo melhor e eles aceitaram como a verdade absoluta. Mas imagine o que seria da riqueza se não existisse a pobreza? Tenho certeza de que se todos os homens fossem igualmente ricos ou pobres, eles ainda criariam fronteiras invisíveis para se distinguirem, pois a natureza humana consiste em demonstração de poder.
- Então quer dizer que o senhor acredita que devemos aceitar a nossa condição?
- O mesmo direito que eles têm de comer o que querem e vestir o que querem, nós também o temos, porém, não devemos usá-los como padrão para as nossas escolhas.
- Mas o ser humano precisa de um referencial!
- Aquele que se espelha em outra pessoa para decidir-se a respeito de como conduzir a sua própria vida, peca pela a covardia de não acreditar em sua capacidade criativa. Deus nos deu um Poderoso Dom. O Dom de criar. Isto é uma das características da tal Imagem e Semelhança que temos Dele.
- O senhor é um crente?
- Todos somos meu filho! Por maior que seja a descrença dos homens neste aspecto, Deus está em todo o lugar, inclusive disfarçado de lógica humana!
- O que o senhor pensa a respeito da real definição de viver?
- Viver é sonhar! Aqueles que abandonam seus sonhos cometem suicídio. Mesmo não morrendo fisicamente, suas almas perecem no vazio e obscuro acaso!
- Qual é o seu sonho?
- Que todas as pessoas voltem a sonhar, que voltem a viver! Repare nessas crianças, elas tiram proveito das coisas que os adultos consideram lixo e criam para si um mundo onde podem ser qualquer coisa que quiserem. Se houver alguma divergência entre eles, com certeza irão brigar, talvez até machucar um ao outro, mas logo voltarão a ser amigos, pois seus corações estão imunes à mágoa e ao ódio que são comuns aos adultos. Devemos ser como estas crianças. Jesus disse certa vez que Aquele que não receber o reino de Deus como recebe uma criança, jamais entrará nele.
Os olhos do homem lacrimejavam, ele entendera exatamente tudo o que aquele velho lhe dissera, mas ele precisava chegar até o fim daquela conversa. Ele se conteve, retomou o fôlego e simulou uma ridícula dúvida:
- O senhor está dizendo que devemos voltar a brincar de pega-pega, esconde-esconde e voltarmos a ser como estas crianças para que Deus nos aceite?
Não se faça de tolo – retrucou o velho sabendo que aquele homem havia entendido cada palavra que dissera- eu disse que devemos voltar a sonhar, transformar as coisas simples da vida em instrumentos para a nossa felicidade e, sobretudo, perdoar incessantemente os que nos ofendem. Somente um coração puro pode ver a face de Deus.
Aquilo foi o suficiente para aquele homem. Ele se despediu do velho com um forte abraço de gratidão e saiu caminhando contemplando tudo a sua volta. Também se despediu do velho empresário que não entendia a essência de sua própria vida. Agora podia compreender que sua vida fazia todo o sentido e que ele não simplesmente se distinguia das demais espécies, mas recebera uma grande missão, designada diretamente dos céus que se resume em Sonhar, perdoar e jamais perder as esperanças, pois a vida depende destes três itens para continuar emanando-se como uma fonte de água cristalina. Pura, linda, refrescante e essencial para o equilíbrio da Terra.